LEITE A2A2
O leite é secretado pelas glândulas mamárias dos mamíferos e tem como principal função fornecer os nutrientes necessários ao recém-nascido. Em bovinos, a sua composição é 87% água e 13% sólidos, estes são divididos em: proteínas totais (3,3% a 3,5%), gordura (3,5% a 3,8%), lactose (4,9%), minerais (0,7%) e vitaminas. Esses 3% a 3,5% de proteínas dependem da raça do animal e alimentação fornecida.
Essa porcentagem de proteínas no leite é dividida da seguinte forma: caseína 80% e as proteínas do soro 20%. A caseína apresenta um arranjo de aminoácidos compostos de forma equilibrada que incluem nove aminoácidos essências ao desenvolvimento de crianças e jovens, por esse motivo, o leite de vaca é um alimento tão importante. Outra função da caseína é carrear o cálcio pelo epitélio mamário sem provocar problemas de calcificação. Os tipos mais comuns de β-caseínas presentes no leite de vaca são A1 e A2.
A β-caseína presente no leite de vaca possui 209 aminoácidos. A diferença entre a β-caseína A1 e a β-caseína A2 é apenas um aminoácido na posição 67, sendo que a A1 tem a histidina na posição 67 e a A2 tem a prolina na mesma posição. Pode parecer uma variação irrelevante, contudo ao entrar em contato com as enzimas digestivas no organismo a histidina se rompe e libera um peptídeo de sete aminoácidos, o BCM-7 (beta-casomorfina-7), este é responsável pelos desconfortos relacionados ao consumo de lácteos, como diarreia, náuseas, dores de cabeças entre outros. Já a β-caseína A2 possui a prolina na posição 67, que não sofre hidrólise ao entrar em contato com as enzimas digestivas, logo inibe a produção de BCM-7 não ocorrendo desconfortos relacionados ao consumo de leite.
Sabe-se que as fêmeas da espécie mamífera, dentre elas cabras, humanos, éguas, búfalas e camelos, produzem apenas a β-caseína A2, contudo, uma mutação genética que ocorreu em torno de 10 mil anos atrás fez com que algumas vacas passassem a produzir a β-caseína A1. Por isso a β-caseína A2 é chamada de caseína natural.
As vacas podem produzir os dois tipos de caseínas ou apenas um deles, essa produção está ligada diretamente a genética do animal. Entende-se que o animal com genótipo A1A1 poderá produzir somente β-caseína A1; animais com genótipo A2A2 produzem só β-caseína A2 e animais A1A2 podem produzir os dois tipos de caseína. Sendo que estes genes devem estar presentes na vaca e no touro, logo para que um animal produza somente leite com a β-caseína A2, este deve conter somente o genótipo A2A2.
O QUE É O LEITE A2 E QUEM PODE SE BENEFICIAR COM ELE?
O leite A2 é aquele que possui apenas a β-caseína A2, é obtido a partir de animais selecionados e capazes de produzir apenas essa caseína. Este leite não desencadeia reações inflamatórias no organismo que provocam a má digestão ou fermentação.
As principais pessoas beneficiadas ao ingerirem este tipo de leite são o que não apresentam intolerância a lactose e nem APLV (alergia a proteína do leite de vaca), visto que o leite A2 possui a enzima lactase, que também é presente no leite tipo A1. Entretanto existem muitas pessoas que deixam de consumir leite e seus derivados pelos problemas gastrointestinais que relatam ao ingerir produtos lácteos e que estão ligados diretamente a caseína A1 presente no leite. O diferencial do leite A2 é este, não apresentar esses desconfortos ao ser ingerido. Diante deste contexto, o leite A2 passa a ser uma alternativa viável para uma melhor digestão para os indivíduos que não são alérgicos, mas que sentem esses desconfortos com a ingestão de leite.
Contudo, é importante ressaltar sobre a “hipoalergenicidade” relacionada ao leite A2, este só pode ser consumido por pessoas que tem APLV se estas forem única e exclusivamente alérgicas a β-caseína A1, entretanto esse tipo de alergenicidade é difícil de encontrar, visto que as pessoas com APLV são alérgicas as duas caseínas. Vale lembrar que a APLV é uma doença muito séria, então sempre consulte seu médico antes de ingerir qualquer derivado de lácteos, sejam de leite A1 ou A2.
CERTIFICAÇÃO
O leite tipo A2 já é uma realidade no mercado brasileiro. Para produtores e para a indústria é uma maneira de agregar valor à matéria-prima e ter um diferencial no mercado. No ano de 2019, o movimento #bebamaisleite lançou o Selo VACAS A2A2, este selo garante que o leite seja A2, através de certificação de terceira parte. Visando o objetivo de dar mais transparência á esse processo de certificação um termo foi assinado entre o #bebamaisleite e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A certificação envolve o cumprimento de normas estabelecidas no protocolo #bebamaisleite VACAS A2A2 e pode ser solicitada por produtores rurais e industrias, desde que sigam os protocolos de certificação.
A adesão ao programa é voluntária e o selo é concedido ao produtor e a indústria pelo #bebamaisleite após auditorias de terceira parte conduzidas pela Certificadora credenciada ao programa. Os processos de auditoria incluem a genotipagem dos animais, identificação, armazenamento, logística e processamento do leite. Esses procedimentos são implementados para garantir a rastreabilidade, impedindo que haja mistura de leite contendo a beta-caseína a1.
O protocolo de certificação é aplicado em todo território nacional e visa atender aos requisitos necessários para a rotulagem, identificação e utilização do Selo VACAS A2A2 para animais e para produtos no mercado interno respaldando processos e garantindo que os produtos resultantes serão oriundos exclusivamente provenientes de animais identificados e acompanhados pelo programa.
Para participar do programa de certificação o produtor deve cadastrar seu e-mail ao sistema CNA Brasil e entrar em contato com a equipe do #bebamaisleite.
REFERÊNCIAS
FONTES. F.; Tudo o que você precisa saber sobre o leite a2a2.; Revista Leite Integral.; Disponível em: https://www.revistaleiteintegral.com.br/noticia/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-leite-a2.; Acesso: 27 Outubro de 2020.
NEIVA. R.; Melhoramento genético de bovinos permite a produção de leite menos alergênico.; Embrapa Gado de Leite.; Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/29569359/melhoramento-genetico-de-bovinos-permite-a-producao-de-leite-menos-alergenico.; Acesso: 27 de outubro de 2020.
PROTOCOLO VACAS A2A2.; Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/protocolo-vacas-a2a2.; Acesso: 28 de outubro de 2020.